“Os produtores rurais foram mais rápidos que os governantes: aumentaram a produção, mas o Estado não foi capaz de garantir o transporte seguro”

A agricultura segurou o Brasil nesses últimos anos, sobretudo na balança comercial, o que se refletiu no balanço de pagamentos. Mas a despeito de imensas dificuldades de burocracia e de escoamento. Neste ano, uma super safra do grande celeiro do país, o Centro-Oeste, corre o risco de ficar atolada. A BR-163 deve escoar mais de 30 milhões de toneladas de grãos. São 1 milhão de viagens de caminhões. Essa rodovia é asfaltada, mas, para chegar a ela, é preciso enfrentar estradas estaduais e vicinais do Mato Grosso e do Pará, que não têm asfalto – e a colheita é na época das chuvas.

Caminhões ficam atolados dias, tanto levando insumos para a lavoura – fertilizantes e combustíveis – quanto carregando soja e milho para os silos da cidade. Caminhoneiros ressabiados desistem de buscar mais cargas. Isso ocorre há anos, mostrando que os produtores rurais foram mais rápidos que os governantes: aumentaram a produção, mas o Estado não foi capaz de garantir o transporte seguro.

No ano passado, a renda da agropecuária despencou 6,6%; agora, corre o risco de continuar caindo, atolada no barro de estradas do Centro-Oeste e pondo as exportações agrícolas, que têm garantido nossa balança, em risco. A previsão do setor é de realizar a exportação de 60 milhões de toneladas de soja e 25 milhões de toneladas de milho. Isso põe o Brasil em destaque no mundo, mas parece que não se leva a sério o que isso representa. Mas não é apenas o comércio exterior que fica atolado; granjas do país inteiro, de suínos e aves, esperam por rações. A consequência é grande para a cadeia produtiva, além do transporte: indústrias de rações, alimentos, atacado, varejo, sem falar da indústria mecânica, de máquinas e implementos agrícolas, fertilizantes, caminhões e carretas.

Isso sem falar no emprego, nesta época de milhões de desempregados. Vai longe o atoladouro crônico.

Vai alto o pioneirismo daquela gente que colonizou o Centro-Oeste em poucos anos. Em um quarto de século, a área plantada cresceu pouco mais da metade, mas a produção quase triplicou. A produtividade agrícola cresceu três vezes a média do mundo. Não foi mágica. Foi muito trabalho, sacrifício e, sobretudo, a modernização da tecnologia, que teve como marco a criação da Embrapa. Também houve mais crédito, mais papéis de comercialização e mais demanda por alimentos no mundo inteiro. Mas ficou faltando asfalto e sobrando atoleiros. É como morrer na praia, depois de um nado recordista. Em outras regiões, perdem-se frutas destinadas aos portos, porque os caminhões sacodem demais nas estradas malfeitas.

Todo esse milagre ocupa apenas 8% do solo nacional, para decepção de fanáticos ambientalistas que preferem a fome a tirar da terra o sustento humano. Pois tudo isso é feito a despeito da demora em prover o setor de uma logística à altura de seu desempenho, com estradas seguras e confiáveis. Por falar em segurança, também há ameaças ideológicas de movimentos que os governos anteriores consideravam “sociais”, quando são, na verdade, ilegais e criminosos, a invadir propriedades, matar gado, queimar tratores, destruir pesquisa de décadas. Disso, a sociedade brasileira já se vacinou, mas ainda falta a lei agir como manda a Constituição, que garante a vida e propriedade.

Com os recursos naturais com que este país está beneficiado, é uma vergonha que não sejamos ricos e felizes. Ser honestos, produtivos, eficientes e com leis confiáveis, tem sido a fórmula para o sucesso de nações sem recursos naturais. Aqui, com o que dispomos – solo, sol e chuva – e com essa gente do campo que trabalha e se moderniza, falta o Estado brasileiro fazer a sua parte com responsabilidade e presteza. O Estado não pode deixar que o avanço da nação atole.